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A arte imita a matemática

A matemática, símbolo da razão e muitas vezes comparado a algo divino, sempre foi um instrumento importante para a humanidade. Ela é responsável pelo avanço tecnológico e pela solução de inúmeros problemas, o que auxiliou na evolução do ser humano e, muitas vezes, garantiu a sua sobrevivência. De um lado totalmente oposto, tem-se a arte, retrato da beleza e representação da emoção humana. Ela conta a história humana e pode ser ressignificada, trazendo um sentimento diferente para cada pessoa que a aprecia. Há quem diz que a matemática está em tudo, mas será que ela também estaria em um lugar tão divergente como a arte?


Em primeiro lugar, podemos analisar as obras de arte de lugares e tempos diferentes para mostrar que existe um conceito matemático por trás. Na Grécia Antiga, por exemplo, as obras eram cheias de simetria e perfeição e muitas tinham um padrão que se repetia como os mosaicos árabes, que até hoje enfeitam lugares do norte da África e do Sudoeste Asiático.

Mosaico Árabe na escola Medersa Ben Youssef em Marraquexe, Marrocos.

Já na época do Renascimento, houve um avanço em relação ao uso da perspectiva, pois a maioria das pinturas eram bidimensionais e passaram a ser tridimensionais. Tal mudança ocorreu na Europa (principalmente na Itália) e se deu a partir do uso de conceitos e proporções geométricas, os quais auxiliaram na representação de uma realidade tridimensional, trazendo assim mais emoção às obras de arte. Essa técnica é conhecida atualmente como ponto de fuga, que é basicamente o traçado de linhas que convergem para um único ponto, fazendo com que uma imagem seja proporcionalmente maior quanto mais distante ela estiver desse ponto de fuga. Um dos maiores símbolos dessa mudança no Renascentismo é a pintura “O Retorno do Embaixador”, obra do pintor italiano Vittore Carpaccio, que fez o uso da proporção e da geometria para construí-la.


“O Retorno do embaixador”, obra de Vittore Carpaccio. A obra é conhecida pelo uso da perspectiva.

Mais pra frente, no século XX, houve o surgimento do cubismo, o qual seu próprio nome já entrega a relação com a matemática. As obras desse movimento artístico eram inteiramente baseadas em formas e volumes geométricos e o aspecto tridimensional foi deixado de lado, voltando com a representação bidimensional. Além disso, existe também uma distorção de algumas partes dos corpos de pessoas e animais (caricatura), que conta com a proporção para a sua realização.


Obra de Pablo Picasso.

No Brasil, tem-se as obras de Athos Bulcão e de Oscar Niemayer que contêm padrões matemáticos e figuras geométricas e estão espalhadas por várias cidades brasileiras. A Capela Curial de São Francisco de Assis é um exemplo de uma obra produzida por Oscar Niemayer. Tal construção é formada, principalmente, por parábolas e conta com a simetria para causar um efeito visual agradável. Já Balcão é lembrado pelas suas pinturas em azulejos, que tem como essência as formas e os padrões matemáticos os quais geram uma sensação de movimento em suas obras.


Capela Curial de São Francisco de Assis, planejada por Oscar Niemayer.

Na obra a seguir é possível observar que as formas aparentam estar em um plano cartesiano e as cores indicam os quadrantes.


Obra do artista plástico brasileiro Athos Bulcão.

Por último, é difícil falar de arte e matemática e não citar o número de ouro. Também conhecido como número divino por estar presente em todo canto da natureza, o número áureo é visto como a proporção perfeita, ou seja, objetos que tem tal proporção são esteticamente mais bonitos e mais visualmente agradáveis. Essa relação foi observada pelo matemático e artista Leonardo da Vinci há séculos atrás e foi utilizada na produção da maioria de suas obras.


As pinturas “Mona Lisa” e “O Homem Vitruviano”, são as mais famosas e são alvo de estudo de vários especialistas por conterem essas proporções em mínimos detalhes. Ambas as artes são consideradas como a representação da perfeição humana por conta das proporções que tornam os desenhos tão belos. Hoje em dia, a proporção áurea ainda é muito utilizada na arte e também em vários designs que são produzidos com a finalidade de criar um produto esteticamente agradável.



“O Homem Vitruviano” de Leonardo da Vinci com as medidas indicando a proporção áurea.

“Mona Lisa” de Leonardo da Vinci. Os lados dos retângulos traçados obedecem a proporção áurea.

Com isso concluímos que a matemática pode estar em qualquer lugar, inclusive na arte que é uma matéria tão emocional, sensível e única. Porém, vale apena lembrar que ainda assim a maior parte da arte não depende da matemática e sim do sentimento, do contexto histórico e do lugar de fala do artista e, ainda, depende da interpretação dada por quem a consome. Mas nada te impede de buscar padrões matemáticos e formas geométricas nas obras de arte ao seu redor ou dar qualquer outro significado que você quiser, que importa é valorizar a arte e a cultura.


--- Escrito por Sávio Dias ---

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